Além de imagens aéreas de tirar o fôlego, os drones passam a contar histórias graças ao dronalismo.
Dizem que se você colocar uma câmera na mão de uma pessoa, ela fará capturas de imagens, e recordações. Mas ao colocar uma câmera na mão de um jornalista ele contará uma história. E isto é válido para os drones, como um novo ramo do jornalismo, estamos assistindo ao surgimento do dronalismo.
Definindo o dronalismo
Definir a ideia por trás do termo “dronalismo” é simples.
Os veículos aéreos não tripulados permitem às pessoas alcançarem lugares que antes eram impossíveis.
Até poucos anos atrás para ser feito uma cobertura aérea de um acontecimento, ou evento, haveria a necessidade de se pilotar um helicóptero até o local, e de brinde ainda levar vários e pesados equipamentos para garantir a qualidade da imagem e da notícia.
Graças ao drone, além de se tornar mais fácil e menos trabalhoso capturar imagens aéreas, os ângulos possíveis para as imagens aumentam.
A ideia do dronalismo é conceder a possibilidade dos jornalistas, e pesquisadores, encontrarem histórias, onde anteriormente não teriam um acesso possível.
O Dronalismo pelo mundo
Sally French é uma jornalista que ganhou destaque no jornalismo ao redor do globo pela sua utilização dos drones para relatar fatos, contar histórias, informar as pessoas e mostrar um novo ponto de vista.
Sally é membro de um novo programa da Universidade de Missouri, chamado Missouri Drone Jornalism. No site oficial do projeto encontramos o objetivo da parceria entre jornalistas e engenheiros:
Ajudar os estudantes a entender e usar os drones para servir a sociedade, e respeitando os valores e princípios da Instituição de ensino superior: respeito, responsabilidade, descoberta e excelência.
French já teve diversas histórias que foram transmitidas em vários meios de propagação da notícia, desde a televisão, onde já apareceu inúmeras vezes, até os jornais digitais.
Na InterDrone, o encontro anual que reúne de técnicos às pessoas que utilizam os drones para trabalhar e relaxar, do ano passado Sally participou de um debate sobre “como os meios de comunicação podem usufruir dos veículos aéreos não tripulados”.
O site Inverse, fundado em 2015 com objetivo de analisar o futuro com base nos dias de hoje, entrevistou a Sally French para descobrir o que é o dronalismo, e como ele está crescendo de forma significativa no mundo do jornalismo.
Entrevista da Inverse com Sally French
Como você definiria o Dronalismo? O que este termo abrange?
Dronalismo é, em sua essência, fotojornalismo. Você está usando um drone para fazer imagens. Então você está usando uma câmera como sempre foi feito, mas é de um novo ângulo: aéreo. Tradicionalmente, as pessoas têm feito uso de helicópteros no jornalismo por um bom tempo. Se você ligar a sua TV, pelo menos sempre foi acima na minha cidade natal em Los Angeles, há diariamente como está o tráfego da 405 Freeways. Agora você pode capturar imagens de um engarrafamento, ou um incêndio, ou uma inundação, ou qualquer outro desastre natural com um drone, que são muito mais baratos e seguros.Como os drones mudaram a forma como os jornalistas cobrem histórias? Quais as razões para estarmos vendo os drones sendo usados agora, mais do que em qualquer outro momento do passado?
Três anos atrás ninguém estava fazendo uso dos veículos aéreos não tripulados para o jornalismo. Definitivamente, eu fui uma das primeiras. Mas, como você disse, estamos vendo os drones ganharem seu espaço no jornalismo. A CNN fez uma grande reportagem sobre o aniversário das marchas de Selma pelos direitos de voto*. Como era uma grande história foi utilizado um vant para contar a história e fazer imagens da ponte. Eu acho que foi um exemplo muito claro da utilização destes veículos no jornalismo, onde ficou muito claro que eles tinha que utilizar um drone.
* As marchas de Selma a Montgomery consistiu em três manifestações, sendo que a primeira é chamada de “Domingo Sangrento”, pelo direito de votos dos negros nos Estados Unidos. Foi um importante marco, que culminou na aprovação da Lei dos Direitos ao Voto em 1965.
Há uma tendência agora, sempre que você abre algum site de notícia há algo como “imagens de drones mostram uma caverna no Vietnã”, ou “imagens de drones mostram a construção assim e assim”. Drones no jornalismo está em alta.
Então eu acho que no futuro – pelo menos o meu futuro ideal – as pessoas vão continuar com essa tendência, até fazer parte do dia a dia sem ser algo novo. Fotos de cavernas, de uma ponte, uma nova construção. Mas não há a necessidade de dizermos que foram feitas com um veículo aéreo não tripulado. Não há novidades em imagens aéreas, e ninguém realmente preocupa-se se foi utilizada uma câmera ou um drone ou qualquer coisa. Entretanto está havendo está preocupação, nós nos importamos com o fato de que um drone tirou aquela foto, e isto é muito legal porque mostra que estamos os usando no jornalismo.Quais os tipos de história que você considera ideal para o uso de drones como um veículo para fazer a captura de imagens?
No momento, exatamente agora, há vários debates sobre se devemos ou não voar em grandes aglomerados de pessoas, e eu acho um debate válido. A tecnologia ainda não está lá. Eu, pessoalmente, não me sinto confortável voando sobre uma multidão, e não recomendo que as pessoas o faça.Com isso, há diversas histórias que são realmente importantes, que precisam ser contadas, que envolvem multidões e grupos de pessoas. O principal exemplo disso seria um protesto. Recentemente ocorreram grandes manifestações em Hong Kong, e existem diversas filmagens de drones mostrando isso. É uma ótima maneira, por exemplo, de dar uma dimensão de quantas pessoas estão realmente presentes no motim. Nos meios tradicionais, imagine um protesto com apenas a câmera terrestre, o que teríamos é a foto de três pessoas com raiva segurando cartazes. Mas como podemos saber se realmente havia apenas três pessoas lá? Um drone pode mostrar que havia 50.000 pessoas lá. E realmente o impacto que causa é muito maior do que uma foto a partir do chão.
A tecnologia ainda precisa evoluir para ser trabalhado para que possamos voar com segurança sob as pessoas. E enquanto não atingimos este ponto há diversas histórias que precisam ser contadas, que não colocam pessoas em risco, como a seca na Califórnia; mostrando a mudança no volume de rios e lagos em função do horário; você pode mostrar desastres naturais voando sobre áreas inundadas, sobre fogos… Claro que há a ressalva de que você deve ser esperto para não perder o seu drone. Existe a discussão de como um veículo aéreo pode interferir e atrapalhar o trabalho de bombeiros, mas eu acho que se há uma forma segura de se obter imagens com drones considero que é uma ótima maneira de contar a história.
Quais são as limitações tecnológicas, políticas ou de qualquer outro tipo, que você gostaria de ver melhorar, no futuro, tornando o uso de drones mais ideal para o jornalismo?
Várias. Uma delas, e que todo mundo está falando, é legalizar os drones para o uso comercial. Para o jornalismo agora, você pode obter uma autorização. O uso de drones para fins comercial não é legal se você não tem uma licença, mas a falta de uma fiscalização cria uma certa isenção desta obrigatoriedade. Para obter esta licença você tem que passar por uma série de pré-requisitos.Um deles é que você precisa ter uma licença de piloto. Eu não possuo tal licença, e eu realmente não sei se algum jornalista possui esta licença de piloto, até por conta do seu custo. Não há nenhuma razão para você precisar de uma licença. E julgo este como um grande problema que precisa ser trabalhado. Equipes de imprensas e redações de jornais não possuem dinheiro suficiente para adquirir a licença para todos os jornalistas que pretendem fazer uso do drone no processo de aquisição de imagens, para informar as pessoas. E enquanto estes pontos não estiverem claros, não veremos as pessoas usarem os drones da maneira que eles poderiam, não veremos elas aproveitarem todo o potencial.